A UBS Jardim Vitória, referência na região, funciona a um custo de quase R$ 209 mil por mês, e seus 48 funcionários – apenas dois médicos – são responsáveis por atender 9,5 mil pessoas. Foto de Karolina Grabowska/Pexels
A UBS Jardim Vitória, referência na região, funciona a um custo de quase R$ 209 mil por mês, e seus 48 funcionários – apenas dois médicos – são responsáveis por atender 9,5 mil pessoas. Foto de Karolina Grabowska/Pexels

Desde que assumiu a prefeitura, em 2016, a gestão Doria/Covas não exitou em entregar a saúde pública na mão da iniciativa privada, por meio de Organizações Sociais. Tal método, precariza o atendimento, já que os médicos terceirizados não têm vínculo com os pacientes e a rotatividade é alta, principalmente em locais periféricos, além da falta de transparência em como as OS’s gerem os recursos públicos. O vereador Celso Giannazi vem combatendo essa situação de maneira recorrente na Comissão de Saúde onde denunciou a privatização da UBS Vera Cruz e lida semanalmente com questões relacionadas à má gestão das OS’s.

Em Comissão, Giannazi denuncia sanha privatista de Bruno Covas

Talvez o exemplo mais emblemático dessa realidade seja o do bairro Cidade Tiradentes, como denunciou o Intercept, onde 80% da população depende exclusivamente do SUS para cuidar da saúde. Uma organização terceirizada pela prefeitura é que gerencia as 12 UBSs e o hospital municipal da região. O bairro é, em média, onde se morre mais cedo em São Paulo de acordo com os dados do Mapa da Desigualdade de 2018.

Enquanto em bairros ricos como o Jardim Paulista os moradores no geral chegam aos 81 anos, quem vive em Tiradentes morre aos 58, idade bem abaixo da média de vida geral da capital paulista, que é de 70 anos. Quem precisa de médico em Cidade Tiradentes costuma demorar até 72 dias para conseguir uma consulta. No resto da cidade, o prazo médio é 45 dias.

Requerimento de Giannazi é aprovado na Comissão de Saúde

A UBS Jardim Vitória, referência na região, funciona a um custo de quase R$ 209 mil por mês, e seus 48 funcionários – apenas dois médicos – são responsáveis por atender 9,5 mil pessoas. Tal número pode ser ainda maior visto que a prefeitura só contabiliza o atendimento dos moradores cadastrados, excluindo quem vive em áreas sem CEP e que também usa o serviço. Em todo o distrito, entre atendimento básico, emergencial e especializado, cada médico é responsável por 2,1 mil pessoas, se dividir o número total de habitantes pelo de médicos – mais de cinco vezes mais pessoas por médico do que recomenda o Pacto Nacional pela Saúde.

Fim do ‘Mais Médicos’ agravou ainda mais o problema

Em 2012, o índice de mortalidade infantil em Cidade Tiradentes era o mais alto da cidade de São Paulo, com 17,2 mortes a cada mil crianças com até um ano de idade. A chegada dos médicos cubanos, em 2013, melhorou a situação. O número caiu 23%, para 13,2, em apenas três anos de atuação dos cubanos, como contou Marta Pozzani, supervisora de Saúde no distrito entre 2013 e 2016 ao Intercept. No entanto, o número voltou a crescer nos últimos anos. O boletim mais atualizado, de 2018, mostrou que o índice subiu 10%, para 14,6 mortes a cada mil crianças.

Desmonte do “Mais Médicos” já afeta 6 milhões de brasileiros

Cidade Tiradentes já contou com 13 médicos do Mais Médicos, todos cubanos. Hoje, apenas duas profissionais do programa, que são brasileiras, atuam na região. Os cubanos atuavam nas Equipes da Estratégia Saúde da Família, responsáveis pelo atendimento preventivo domiciliar e em postos de saúde. Em 2013, um quarto das equipes não tinham médicos – eram formadas apenas por enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Com o programa Mais Médicos, esse número caiu para 3,3%, segundo um estudo de 2017.